Uma das coisas que mais fiz como educador de meus
filhos foi tirar o encanto da droga ilegal, para impedir ou dificultar que
tivessem acesso a esse tipo de prazer – porque é óbvio que é prazeroso, senão
ninguém iria atrás dele. Não é bom fazer uso dessas substâncias, não é
encantador. Uma pessoa que usa droga é fraca, pois não detém força suficiente
para se defender daquilo. Eu não sou forte quando me comporto como a manada.
Sou forte quando consigo ter uma conduta
consciente, em que faço o que faço porque decido o que fazer. Não porque as
outras pessoas também o estão fazendo. Esse comportamento mimético(que imita), simiesco(parecido
com macacos), em relação a algumas práticas é sinal de fraqueza e de pusilanimidade (fraqueza de ânimo).
Aceita-se hoje, com a maior facilidade, o que chamo
de ética da conveniência. “Bom é tudo aquilo que me favorece. O que não me
favorece considero ruim”. Em vez de termos valores de conveniência que sejam
sólidos, menos superficiais, portanto, menos cínicos, há uma hipocrisia que
leva a esquecer que ética não é cosmética. Não é efeito de fachada.
Nessa hora, costumo lembrar um alerta valioso feito
pelo Corpo de Bombeiros: nenhum incêndio começa grande, e sim com uma faísca,
uma fagulha, um disparo. Isso se aplica ao campo da ética. O apodrecimento dos
valores éticos positivos se inicia também com pequenos delitos, infrações,
aceitações, conivências.
A expressão ‘o amor aceita tudo’ é absolutamente
antiética e antipedagógica. A pessoa que seja capaz de amar é aquela que recusa
aquilo que faz mal, por isso um pai e uma mãe não pode jamais dizer ao filho ‘é
porque eu te amo, então tudo aceito’. É exatamente o inverso: porque eu te amo
é que eu não quero que você use drogas ilegais; é porque eu te amo que eu quero
que você seja decente; é porque te amo que eu não quero que você banalize a sua
sexualidade livre e bonita; é porque eu te amo que eu quero que você tenha
esforço na sua produção e é porque você me ama que eu quero que você, meu
filho, minha filha, me adverte, também me apoia, também me corrija naquilo que
eu estiver equivocado. Essa relação de cuidado mútuo, só nos faz crescer. Por
isso esse exemplo do cotidiano tem que aparecer como sendo a recusa com
qualquer situação. A ética do amor não é a ética da conveniência em que as
coisas valem a partir de qualquer momento, mas uma ética que é capaz, também de
dizer ‘não’ ao que tem que ser recusado.
Texto extraído do livro Educação, convivência e
ética: audácia e esperança, Cortez Editora, 2015, páginas 76/77.
Mário Sergio
Cortella
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