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sexta-feira, 1 de abril de 2016

SUCESSO, DESTINO E MORTE...

Leandro Karnal fala sobre sucesso, destino e morte
Intelectual compartilhou conhecimentos e pontos de vista

Ele é um dos intelectuais mais respeitados do país. Faz dos seus discursos – dos mais diversos – uma dança entre lucidez e raciocínio que justifica o sucesso alcançado. Aos 53 anos, Leandro Karnal, gaúcho por natureza, tem disseminado pelo país seu entendimento sobre a vida, história, religião, política e, nessa ocasião, sobre o comportamento humano. Professor especializado em História da América na Unicamp, Karnal está de visita a Aracaju para uma palestra sobre ‘Gestão de Mudança e Empreendedorismo’, e conversou com o Portal Infonet sobre seu entendimento sobre o sucesso, destino, morte e solidão.

O sucesso, para Karnal, é algo que independe do indivíduo. Quando perguntado se o empreendedorismo é suficiente para alcançar triunfo, o professor responde: “Dentre as mais variadas correntes filosóficas sobre a autonomia do homem, eu gosto de defender esse cruzamento que há na vida envolvendo o destino do acaso – que é aquilo que não controlo e que Maquiavel chamou de ‘fortuna’, e aquilo que controlo – que Maquiavel chama de virtú (capacidade de dobrar a fortuna). Não existe possibilidade de vencer sem o encontro adequado dessas duas”, disse.

Entre crenças, entendimentos e explicações, Karnal desmistifica a influência que o ‘pensamento positivo’ pode exercer nos objetivos das pessoas.  Para ele, o tipo de comportamento baseado em pensamentos positivos é frágil quando não se vem acompanho de uma ação. “As coisas só acontecem caso você faça. Se você se atirar de um prédio e pensar positivamente que pode voar, a lei de Newton vai se impor ao seu pensamento positivo. Se você comer muito, vai engordar independente do seu pensamento positivo. Se o pensamento positivo for o início de uma ação, então podemos destacá-lo como um princípio, se ele for uma ideia de que pensando positivo acontece, isso chamamos na antropologia de pensamento mágico”, compreende.

No alto do seu conhecimento erudito, Leandro Karnal também tem uma opinião formada sobre as redes sociais. Indagado se estes meios emergiram com propósito de preencher alguma carência da sociedade contemporânea, ele foi enfático: “se elas vieram para suprir a solidão, não estão funcionando, pois a solidão só tem aumentado nas pessoas”, diz.

Para ele, as redes sociais são instrumentos neutros, e quem as usam, determinam sua função. “Elas fazem parte de um desejo humano de se comunicar e medo de se entregar. Umberto Eco, recém-falecido, diz que ela deu voz a todos imbecis do mundo. Verdade! Mas deu voz também a gente inteligente. A técnica é sempre neutra, nunca é boa ou má. Você a usa como quiser, inclusive, para enganar sua solidão publicando foto sem parar”, completou.

Sobre a morte, o professor chega a usar o humor para falar sobre. Diz que não tem medo dela, mas reconhece a dificuldade das pessoas em lidar com o tema. “Hoje não tenho nenhum medo da morte, mas gostaria de não sofrer. A ideia de que você tem que ter medo de algo que vai acontecer, é idêntica a ter medo do pôr-do-sol, do nascer do outro dia, é idêntica a ter medo das coisas que você não controla. Somos todos seres mortais, feitos de moléculas de caborno, todos morrerão, até mesmo a Rainha Elizabeth II um dia talvez venha a morrer”, ri.

“É absolutamente impossível controlar isso. Ter medo do inevitável é um pouco de infantilidade. Mas essa pretensão à imortalidade é uma característica muito humana, tanto que os faraós faziam tumbas para permanecerem imortais, os indús acreditam em reencarnação, e então criamos essa ideia de imortalidade para enfrentar esse medo terrível que a maioria tem da morte”, concluiu Leandro.

Por Ícaro Novaes e Verlane Estácio

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