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terça-feira, 23 de agosto de 2011

UNIR O ÚTIL AO AGRADÁVEL

" Eu li em um dos livros do Ruy Castro que, ainda mais legal do que unir o útil ao agradável, é unir o agradável ao agradável."


A exaltação do desfrute.


Há tempos venho ruminando sobre isso.


Conheço muitas pessoas que vão ao cinema, a boates e restaurantes e parecem eternamente insatisfeitas.


Até que li uma matéria com a escritora Chantal Thomas na revista República e ela elucidou minhas indagações internas com a seguinte frase:


"Na sociedade moderna há muito lazer e pouco prazer"
.
Lazer e prazer são palavras que rimam e se assemelham no significado, mas não se substituem.


É muito mais fácil conquistar o lazer do que o prazer.


Lazer é assistir a um show, cuidar de um jardim, ouvir um disco, namorar, bater papo.


Lazer é tudo o que não é dever. É uma desopilação.


Automaticamente, associamos isso com o prazer: se não estamos trabalhando, estamos nos divertindo.


Simplista demais.


Em primeiro lugar, podemos ter muito prazer trabalhando, é só redefinir o que é prazer.


O prazer não está em dedicar um tempo programado para o ócio. O prazer é residente.


Está dentro de nós, na maneira como a gente se relaciona com o mundo.


Chantal Thomas aborda a idéia de que o turismo, hoje, tem sido mais uma imposição cultural do que um prazer.


As pessoas aglomeram-se em filas de museus e fazem reservas com meses de antecedência para ir comer no lugar da moda, pouco desfrutando disso tudo.


Como ela diz, temos solicitações culturais em demasia. É quase uma obrigação você consumir o que está em evidência.


E se é uma obrigação, ainda que ligeiramente inconsciente, não é um prazer.


Complemento dizendo que as pessoas estão fazendo turismo inclusive pelos sentimentos, passando rápido demais pelas experiências amorosas, entre elas o casamento.


Queremos provar um pouquinho de tudo, queremos ser felizes mediante uma novidade.


O ritmo é determinado pelas tendências de comportamento, que exigem uma apreensão veloz do universo.


Calma. O prazer é mais baiano.


O prazer não está em ler uma revista, mas na sensação de estar aprendendo algo.


Não está em ver o filme que ganhou o Oscar, mas na emoção que ele pode lhe trazer. Não está em faturar uma garota, mas no encontro das almas.


Está em tudo o que fazemos sem estar atendendo a pedidos.


Está no silêncio, no espírito, está menos na mão única e mais na contramão.


O prazer está em sentir.


Uma obviedade que merece ser resgatada antes que a gente comece a unir o útil com o útil, deixando o agradável pra lá.


José Arreguy Pimentel

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